Em tempos de exposição exacerbada e de colocarmos nossa
linda vida na vitrine das redes sociais, me pego novamente pensando acerca da
vaidade.
Seria fácil dizer aqui que a vaidade tende a ser pura
futilidade e ostentação, que é normal ficar gabando-se em frente ao espelho,
brincando de contos de fadas, perguntando quem é a mais bela, o mais rico, a
mais inteligente, o mais sarado.
Mas julgar e apontar o dedo não são formas muito eficazes de
abordar um tema.
Eu mesma já me julguei como sendo da turma dos “não vaidosos”,
pintei as unhas de vermelho só depois dos 30 anos, era avessa à maquiagem,
sempre fui conservadora com os cabelos e com a maneira de vestir, exaltei
muito mais os livros que lia do que a marca da roupa que usava, nunca fui do
tipo de querer chamar a atenção. Mas mesmo essa maneira de andar na contramão e
de viver à margem da moda, também são formas da mais pura vaidade.
E se pararmos para pensar, o que não é vaidade? A roupa que
vestimos, o perfume que usamos, a comida que comemos, os lugares frequentados,
o carro, a casa, os livros que lemos, tudo aquilo que consumimos e as pessoas
com quem convivemos. Tudo isso é vaidade, é instável e é vão!
Consciente ou inconscientemente, tudo é pensado para atrair
a atenção do outro. E ainda que sejamos o menos hedonista dos mortais, não
podemos aceitar nada menos que a admiração e o orgulho alheio. E onde fica a inveja?
A famigerada inveja. Que ninguém sente. Não declaradamente.
A nossa cultura trata a inveja como um desvio de caráter. E
as pessoas acabam por não as assumirem e assim as reprimem no
inconsciente, juntamente com todas as emoções e sentimentos que não admitimos
possuir.
A questão é que a inveja denuncia nossa condição de
inferioridade. Mas não é um paradoxo impedir o ser humano de sentir o que ele
já sentiu?
Quando
nos damos conta, ela já está instalada. Acho que a grande
sacada é saber o que fazer com ela.
Mas
não me venha com essa de “inveja boa”, isso para mim é pura hipocrisia, é um
disfarce que não funciona.
Que mundo doido. Olho para essas vitrines e penso o
que de fato há por trás delas.
Não posso demonstrar fraqueza e nem devo despejar minhas
dores e lamentações. Mas tampouco devo exaltar minhas conquistas e meus dotes
físicos. Então enfim, qual o equilíbrio disso tudo?
E não me refiro apenas às redes sociais. Essa é apenas uma
das vitrines. Digo da filosofia de vida. Da postura que devemos ter perante aos
nossos valores.
O culto ao consumo me irrita, mas faço parte dele. Caio
nessas armadilhas de enaltecer o restaurante de nome que frequentei, a viagem
da moda, a roupa de grife. Quando vi já foi dito, já foi divulgado e já está estampado
na minha vitrine também.
Mas tem como nadar contra essa maré?
Que prazer é esse que temos de nos exibir o tempo todo? E de
parecer melhor que o outro, sempre!
É um vício perigoso. Que alimenta a ganância e a arrogância
e nos torna cada vez mais prepotentes, exaltando todos os seus sinônimos como o
abuso de poder, a opressão, a tirania e o despotismo.
Somos eternos pavões exibindo suas plumas. Mas que fique
claro que as minhas são as mais coloridas e vibrantes, ok?
E
aí, que tal assumirmos nossas invejas e vaidades e colocarmos tudo no devido
lugar? Não, eu não quero ser melhor que você, não quero que você inveje minhas
condições, mas tudo isso faz parte da condição humana.
Só precisamos ter cautela e não fazermos disso prioridade na nossa vida.
Só precisamos ter cautela e não fazermos disso prioridade na nossa vida.
Então,
assumo aqui minha "falsa modéstia", minhas fraquezas, ciúmes e despeitos. Mas também assumo que quero estampada
na minha vitrine a vontade de ser uma pessoa melhor, com valores cada vez mais
perenes e estáveis.