...para qualquer criança uma palavra tão
fácil de aprender a escrever.
E para dizê-la, será fácil também? Sim.
Costuma ser até uma das primeiras que todo bebê pronuncia, ainda que não
assimilada de seu verdadeiro significado.
Para se dizer é preciso sentir, e sentir
pressupõe interiorizar, vivenciar.
Toda criança, ao crescer, tem, no mínimo,
três formas de pronunciar essa palavra.
Pai. Uma penosa e indiferente revelação de um
nome, podendo ser qualquer nome, tanto faz, afinal, toda criança tem mesmo um
pai. Tem?
Pai? Uma indagação indignada, irônica, doída da
(des)proposital ausência paterna. Um desconhecido, um indiferente, de
companhia, amor, cumplicidade, proteção.
Pai! Pai! Pai! Repetida por orgulho, o mesmo de quando se
ganha uma corrida, se aprende a andar de bicicleta, a nadar sem bóia. Orgulho
de si mesmo e orgulho do amigo de travessuras, do parceiro de imaginação, do
incentivador para ajudar a levantar de um tombo e rir de si mesmo.
Todo pai já foi um menino. Mas a recíproca
não é verdadeira – nem todo menino um dia será pai...especialmente um bom pai.
E se tornando pai, que pai escolherá ser? Tantas são as escolhas, as
possibilidades, as casualidades.
Carpinejar-filho encontra Carpinejar-pai.
Quando pequeno, sofreu com a separação dos pais. Hoje, tenta fazer com que sua
filha não sofra com igual distância, porque esteve dos dois lados da voz para
compreender que o amor se faz indo e voltando.
Meu filho, minha filha é uma confissão do
prazer que sente um homem ao se ver no outro, pequenino, e portanto também
pequenino de novo mas agora pai, de quanta lembrança retorna de seus tempos de
calção e pé no chão, de tanto de bom que viveu e precisa compartilhar, de tudo
de ruim que passou e viu, e não quer para seus filhos.
Não é nada fácil ser pai, mas há algo nesta
vida que seja fácil e bom ao mesmo tempo?
Rosemary Alves
Nunca
publiquei aqui no blog nada que não fosse de minha autoria. O texto acima é o prefácio
do livro Meu filho, minha filha do escritor Fabrício Carpinejar.
Para mim o tema é tão pertinente que valia a pena a reprodução nesse espaço e como pano de fundo para uma reflexão.
Para mim o tema é tão pertinente que valia a pena a reprodução nesse espaço e como pano de fundo para uma reflexão.
Aliás,
essa é uma pauta sempre em voga para mim e já lidei com esse assunto de
diferentes maneiras.
Lendo
o texto, me identifiquei com a segunda definição: o cara ausente, indiferente
de companhia e de amor, uma realidade tão doída e puxa, como já foi difícil.
Para qualquer criança é complicado lidar com o fato de que existe uma figura paterna, mas que não lhe dá a mínima e que simplesmente abre mão desse papel.
Hoje,
prestes a ter um filho, sei que vou vivenciar com ele esse prazer que me foi
negado, o de ter um pai. Vou me deliciar com as aventuras que ele ainda vai
experimentar ao lado da figura do homem que lhe dará incentivo, carinho e a mão quando
ele cair.
Mal posso esperar...
“...meu filho, meu filho, te encontro de
noite com os olhos enfunados, sábio, não choras de perdido e de fome. Os
cabelos arregalados de espigas. Não pedes leite, colo, aconchego. Estás inteiro
me reunindo. É como se me aconselhasses sem falar.
Tu e eu na noite como nunca antes. És meu
filho e o pai que não tive, ou o filho que ainda não nasceu e tem o tempo livre
para visitar meu ventre.”