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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

“Olhos nos olhos, quero ver o que você diz...”

Meu pai tinha lindos olhos verdes que eu não herdei.

Eram vibrantes, meio misteriosos, um tanto maliciosos e muito bonitos.
Sempre achei que tivesse um “quê” de Chico Buarque, talvez por isso fizesse tanto sucesso com o mulherio.

Dizem que toda filha é apaixonada pelo pai. Claro que não estamos falando de nada incestuoso, mas sim de certa idolatria, uma admiração quase mítica.
Posso dizer que eu fui apaixonada por ele. Mesmo depois de descobrir que meu príncipe dava expediente em outras paragens e que habitava outros reinos, ainda assim continuava amando aquele homem.

O tempo passou, infelizmente nos distanciamos, mas continuei fascinada por aquele olhar.
Há quase cinco meses seus olhos perderam o brilho, mas curiosamente (e morbidamente também), insistiam em se manterem abertos.

Sendo assim, a última imagem que tenho dele é com os olhos ainda entreabertos (e um arrepio me corre a espinha cada vez que me lembro).
Bom, parece que vieram me observar. Digo isso sem nenhum cunho religioso, mas se me perguntarem com o que sonhei essa noite direi: “com os olhos vivos de meu pai”.

 



Um comentário:

  1. Texto lindo, demonstração de amor admirável. Pode não ter herdado a cor mais a profundidade e o brilho do olhar certamente herdou. 💓

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